quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Um Natal diferente

- Não sei se volto. Não sei se resisto. Pensa.
As horas passam. A noite aproxima-se e com ela a angústia e o medo da morte. O medo da morte impede-a de viver. Todos lhe dizem que tem filhos para criar, que a sua tristeza permanente vai dar cabo deles, que o marido não tem que a aturar. Que outros passam pela doença e aguentam. Ela sabe disso tudo. Mas o medo é mais forte. Entrou em descontrolo. Sai de casa ao anoitecer. Diz que volta já. Mas vai ter com o pai.
Vê um carro preto a aproximar-se, talvez com uma família que se prepara para a Consoada. O carro atrai-a. Coloca-se mesmo em frente, já não pensa em mais nada. Liberta-se.
Na rua pacata começa um frenesim de sirenes e gente a amontoar-se. Mas ela já não está lá.
Está a ver tudo, fora do seu corpo ainda a cheirar aos fritos de Natal que passou a tarde a cozinhar. Não encontrou o pai e não suporta ver o sofrimento dos filhos ao olhar para o seu corpo frio. A angústia tornou-se eterna.

11 comentários:

mac disse...

Qual quê! O que tantas vezes nos impede de viver não é o medo da morte, é o medo da vida. Mas descobri que em determinadas alturas o truque está em por um pé à frente do outro sem cuidar do caminho; apena um pé à frente do outro, mais nada.

Um bom Natal, calmo, pacífico e alegre.

Anónimo disse...

obrigada querida mac

Anónimo disse...

"A noite aproxima-se e com ela a angústia e o medo da morte."

Só sentimos medo daquilo que já estamos experienciando.

Medo da morte? Então já estou morto/a...

Anónimo disse...

Aproveitando o gancho Natalino:

Que no aniversário da divindade encarnada, nasça em nós um enooorme tesão pela vida!

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

Enquanto mais umas quantas crianças Iraquianas eram bombardeadas pelos guardiães da liberdade e da democracia, e outras tantas morriam como conseqüência das bombas de material radioativo empobrecido o por causa do embargo que lhes priva de medicamentos,
conseguimos sobreviver a
mais uma Ceia de Natal...

saphou disse...

vero. Difícil, no entanto.

Anónimo disse...

Por mais difícil que seja/tenha sido,
pior é na guerra...

Dois mil e nove pode ser igual, pior ou melhor, e,
embora não tudo, muita coisa
está em nossas mãos fazer.

Anónimo disse...

Se os conceitos de "Maya" e "Matrix" estão corretos,
então o mundo "lá fora" é
projeção do nosso "aqui dentro"...

Então, para mudarmos o "lá fora" precisamos mudar o "aqui dentro".

Anónimo disse...

Ou,
continuando no
espírito Cristão,
vale lembrar os versos
"Buscai e achareis";
"Batei e abrir-se-vos-á";
"Pedi e dar-se-vos-á"

Mofina disse...

Sobrevive-se à vida, por pior que ela seja...

E o Natal está quase a passar!